Quais os riscos e desafios da transição energética? Entenda como o investimento em tecnologia pode torná-la mais acessível e acelerar o processo, nos deixando mais próximos do nosso objetivo de net-zero.
A sociedade enfrenta um trilema energético: precisamos de acesso a uma energia que seja segura, sustentável e acessível. Para resolver este problema, precisaremos expandir e diversificar fontes de energia com baixo teor de carbono, o que significa ampliar os novos meios de produção, os combustíveis e a tecnologia de descarbonização.
Um novo estudo da Baker Hughes, o inquérito anual “Energy Transition Pulse”, realizado junto de 555 líderes empresariais do setor de energia e da indústria em 21 países, conclui que a disponibilidade de tecnologia se tornou o fator mais importante na aceleração da transição energética.
As melhorias na eficiência energética através de infraestruturas existentes ou atualizações comprovadas podem ser uma forma rápida das empresas reduzirem as suas emissões de carbono. Mas para realmente fazer a diferença, a energia e a indústria precisam se concentrar na implantação de mais tecnologias de descarbonização. As restrições ao financiamento e à cadeia de abastecimento no cenário pós-pandemia constituem uma barreira e reduzir o risco de novas tecnologias e grandes infraestruturas continua a ser um desafio para muitas empresas.
As tecnologias estão surgindo muito lentamente
De acordo com a International Energy Agency (IEA), “várias tecnologias emergentes registaram progressos encorajadores, mas estas tendências positivas precisam acelerar rapidamente ao longo da atual década para alcançar níveis de implementação alinhados com uma trajetória de emissões net-zero até 2050”.
As novas cadeias de valor são essenciais para acelerar este processo — por exemplo, para a captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) — e os novos ecossistemas em torno de combustíveis alternativos, como a transformação de resíduos em energia e o hidrogênio.
Ilham Kadri, CEO e presidente do comitê executivo da Solvay, que comercializou com sucesso novas cadeias de valor de transformação de resíduos em energia para substituir o carvão em duas das suas fábricas europeias, afirma que estes novos ecossistemas são vantajosos para a Solvay e para os stakeholders da empresa.
Maior utilização resultará na redução de custos
A comercialização da tecnologia é uma parte importante para a expansão da sua utilização. À medida que as tecnologias e os combustíveis se tornam mais amplamente utilizados, os seus custos diminuirão, o que, por sua vez, incentivará uma demanda maior.
Foi o que aconteceu com a energia solar e eólica na última década. Entre 2010 e 2019, o custo da energia solar fotovoltaica caiu globalmente 82%. O estudo de custos da IRENA concluiu que melhorias tecnológicas contínuas e maiores economias de escala desempenharam um papel nesta deflação, reduzindo os custos de produção.
Meg O'Neill, CEO da Woodside Energy, lembra como o investimento consistente em fontes de energia renováveis, como eólica e solar, reduziu o custo de implantação ao longo do tempo, e espera que algo semelhante precise acontecer para novas fontes de energia com baixo teor de carbono, as tencnologias e os portadores de energia, como o hidrogênio.
“A tecnologia será fundamental para começar a reduzir o custo dos elementos necessários para viabilizar a transição energética”, afirma ela. “Nas últimas décadas, vimos o custo dos painéis solares diminuir drasticamente. Agora precisamos aplicar tecnologia para garantir que outras oportunidades de transição energética também sejam competitivas em termos de custos.”
Mark Nelson, vice-presidente executivo de estratégia, política e desenvolvimento da Chevron, afirma que é necessário fazer muito mais trabalho antes que o hidrogênio, por exemplo, possa contribuir mais para a descarbonização. “Precisamos de mais desenvolvimento tecnológico que ajude nos custos de fabricação e transporte”, diz ele. “Também estamos trabalhando arduamente nas economias de escala, que ajudarão no transporte de hidrogênio.”
O que está impedindo o investimento em tecnologia de transição?
O inquérito da Baker Hughes conclui que os riscos da tecnologia, combinados com as perspectivas econômicas desfavoráveis, estão travando o investimento na transição energética.
A incerteza econômica, o risco tecnológico e o financiamento são as três principais barreiras ao investimento em tecnologias de transição energética
Quais são as três maiores barreiras ou desafios para a sua organização investir em tecnologias de transição energética?
Como incentivar as empresas a agir
As empresas recorrerão aos pioneiros em busca de garantias, mas esses pioneiros buscam alguma segurança e retorno dos seus investimentos em novos combustíveis, tecnologias de descarbonização e infraestruturas. Acordos de compra, novas parcerias e apoio político são três formas de reduzir o risco das tecnologias e incentivar o investimento.
Acordos de compra
Os acordos de compra reduzem o risco financeiro de grandes projetos de infraestruturas, tanto para o produtor como para o comprador: o financiamento é assegurado, existe um mercado e um fornecimento garantidos e uma estrutura de preços fixa.
De acordo com o presidente e CEO da Baker Hughes, Lorenzo Simonelli, novos modelos de negócios serão cruciais para a expansão da infraestrutura de gás natural liquefeito (GNL). “Há muitos recursos disponíveis, mas precisamos criar os mecanismos de financiamento adequados”, afirma. “Por exemplo, os acordos de fornecimento de GNL duram normalmente 20 anos, mas algumas empresas só precisarão de fornecimento durante cinco anos. Precisamos de modelos comerciais novos e flexíveis para permitir o progresso dos projetos.”
Novas parcerias
Para o hidrogênio e o CCUS, as parcerias e a colaboração intersetorial irão criar novos ecossistemas para ajudar a monetizar os processos de descarbonização. Por exemplo, o projeto de captura e armazenamento de carbono de Bayou Bend surgiu de uma parceria entre a Chevron, a Talos Energy e a CarbonVert. Anunciado em maio de 2022, será o primeiro projeto desse tipo nos EUA a sequestrar o carbono de instalações industriais.
“Estamos reunindo empresas de tecnologia, empresas de infraestrutura e empresas emissoras para criar hubs”, afirma Mark Nelson, da Chevron. “É preciso continuar avançando a tecnologia, é fundamental reunir o grupo certo de pessoas e é necessário apoio político para acelerar o processo.”
Apoio político
O apoio político às tecnologias emergentes também pode criar mudanças substanciais na adoção. A Lei de Redução da Inflação aprovada pelo governo dos EUA em Agosto de 2022, por exemplo, inclui créditos fiscais para o hidrogênio verde que poderão reduzir para metade o seu custo em alguns locais.
“Políticas como a Lei de Redução da Inflação nos Estados Unidos fizeram maravilhas para estimular o hidrogênio”, diz Simonelli. “Se olharmos para os 4 bilhões de dólares que serão investidos, isso permite que o hidrogênio verde seja competitivo hoje.”
Apesar da incerteza nos mercados energéticos e dos receios mundiais de uma recessão, as empresas devem perseverar e continuar a investir em tecnologia de transição energética e permitir o crescimento em CCUS, em biocombustíveis, em geotérmica, em hidrogênio, em GNL – e em todas as outras soluções necessárias para equilibrar o trilema energético.
Content produced by FT Longitude, the specialist marketing & research division of the Financial Times Group.
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